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Arquitetos: Carlos Antonio Pérez Hernández
- Área: 1750 m²
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Fotografias:Julio César Mesa
Descrição enviada pela equipe de projeto. Frente à necessidade de projetar um campus para uma empresa dedicada ao desenvolvimento de softwares, hardwares e outros temas relacionados à tecnologia, e com a informação de que na cidade de San Juan de los Morros, Venezuela, havia 4 edifícios abandonados, o Conselho Federal do Governo, decidiu reabilitar 2 desses edifícios, com o objetivo de abrigar o prédio-sede da referida empresa.
Isso aconteceu por volta de julho de 2020, um dos momentos mais críticos devido à pandemia de COVID-19, circunstâncias que influenciariam de forma determinante o momento de apresentar, propor e executar o projeto. As instruções foram claras e precisas: o projeto deveria ser apresentado em um prazo estimado de um mês e meio, a execução deveria ser dividida em 2 etapas; a primeira etapa teria como objetivo a adaptação de 2 edifícios existentes (denominados edifícios "02" e "03"), com um prazo máximo de execução de três meses, e a segunda etapa teria como objetivo a construção de um novo edifício (denominado edifício "anexo"), com um prazo de construção de 8 meses.
Em ambas as etapas, também seriam construídas as áreas externas, paisagismo, etc. A dificuldade foi concebida desde o início, mais do que como um obstáculo, como uma oportunidade para demonstrar que, com recursos limitados e outras restrições, é possível resolver de forma lógica e eficiente um projeto. Por isso, a materialidade do projeto apresentava um grande desafio: os materiais deveriam ser de produção exclusivamente local e deveriam ser utilizados insumos simples, procurando a praticidade, durabilidade e aconchego.
Programaticamente, foi proposta a construção de um prédio de escritórios que deveria conter, além disso, outras áreas de uso coletivo, como um auditório, refeitório, salas de uso múltiplo e uma escola de produção de alimentos. Foi proposto que os edifícios "02" e "03" abrigariam a maior parte dos requisitos do programa, escritórios, serviços e circulações verticais, entendendo que esses dois edifícios seriam os primeiros a serem construídos, de modo que o prédio "anexo" conteria principalmente atividades de uso coletivo.
O conjunto seria desenvolvido em 4 níveis: semi-subsolo, térreo, P1 e P2. As circulações verticais e a distribuição interna do conjunto foram planejadas pelas duas escadas existentes nos edifícios "02 e 03" e uma escada que conectaria ao semi-subsolo através do edifício anexo. Deve-se informar que os edifícios "02" e "03" originalmente não possuíam elevadores, situação que não foi modificada por se tratar de um prédio de baixa altura. No caso do semi-subsolo, ele abrigaria atividades de uso coletivo, com acessos independentes ao principal; o térreo abrigaria atividades mais internas da instituição; o nível P1 seria para o hall de acesso principal de pedestres, que seria feito por uma escada externa; este nível também abrigaria usos relacionados a todas as atividades do conjunto.
Por fim, o nível P2 abrigaria as áreas de uso mais privado e de acesso exclusivo para a presidência e áreas administrativas, sendo o único que não estaria conectado com o restante através do edifício anexo. Importante ressaltar que os edifícios "02" e "03", foram projetados para habitação de interesse social, portanto, possuem características muito particulares, como os eixos estruturais distanciados em 3 metros e alturas entre lajes de 2,50 metros, o que os tornava espacialmente muito limitados. Isso significa que a intervenção nesses dois prédios envolvia a demolição de quase todas as paredes existentes e, considerando as limitações espaciais, pretendia-se deixar as áreas o mais desobstruídas possível para seu máximo aproveitamento.
Os pilares e vigas foram despidos de revestimento, deixando o concreto aparente. As instalações mecânicas, sanitárias e elétricas do conjunto seriam instaladas no teto, o que significava que os cabos, luminárias e tubulações estariam à vista. Dessa forma, além da praticidade, o edifício internamente teria um aspecto tecnológico industrial que combina muito bem com o novo uso.
Deve-se mencionar que este conjunto está cercado por vistas impressionantes, campos e montanhas muito pouco intervencionadas pelo homem, onde se destaca o monumento natural Los Morros de San Juan, localizado ao norte, sendo importante poder apreciá-los desde dentro, o que se tornou uma parte importante do projeto. Especificamente em relação às fachadas, elas deveriam funcionar como dissipadores de calor, de modo que o edifício e os elementos que o compõem colaborariam para evitar ganhos térmicos indesejados. As fachadas nos edifícios 02 e 03 foram resolvidas com elementos de cimento, frisos rústicos e em áreas de serviços, blocos vazados de argila.
As janelas nas áreas de trabalho foram projetadas como elementos de altura variável e organizadas de forma intercalada de acordo com o nível e com uma largura de 50 centímetros, o que permite, juntamente com a largura da janela e brise, reduzir ao mínimo a incidência solar e ter vistas para o exterior em quase todas as áreas de trabalho. As salas para instalações mecânicas em geral foram situadas nas fachadas menos favoráveis. O edifício anexo é o volume unificador do conjunto, desenvolvido com uma planta de base quadrada de 15 x 15 metros; os eixos estruturais estão distanciados em 5,50 metros e balanços de 2,50 metros em todas as fachadas.
Os níveis entre lajes são variáveis e vão de 2,50 metros a 5,60 metros. Este é desenvolvido em 2 níveis e um semi-subsolo. A intenção ao desenvolver estruturalmente o edifício dessa maneira era ter a liberdade de resolver de forma diferente, de acordo com a incidência solar e o uso interno de cada nível, mantendo a homogeneidade no conjunto, com brises construídos com blocos de concreto, elementos modulares metálicos micro perfurados, bem como elementos vazados de concreto.
Por último, quis-se desafiar a obsolescência do edifício do ponto de vista estilístico, obedecendo ao uso de processos estritamente funcionais, produzindo uma composição dinâmica e lógica em planta e elevação, evitando a todo momento o "adorno" como elemento para gerar contemporaneidade ao conjunto.